Robert Walser parece escrever para corresponder a um ímpeto da morte. Sobreviver para escrever, escrever para sobreviver. As suas narrativas reflectem uma necessidade de se desviar da vida, não com niilismo, mas respirando calmamente um ar poluído. A leitura de Robert Walser é como uma tentativa de sair sofregamente de um local fechado, esbracejando com uma força indiferente e leve contra a pressão das paredes de um mundo que se encerra gradualmente sobre nós. Walser apercebe-se da nossa condição de errantes. Sorri disso, deambulando no meio da profusão, para depois desaparecer longe. Um dia estaremos sozinhos, caminhando, sem sair do mesmo lugar, ou talvez regressando, e depois cairemos sobre a neve fria que não sentimos. Encontram-nos crianças, que não compreendem, que ainda não compreendem.